No dia 27 de Maio de 1987 as 18:30 (mais ou menos a esta hora), estava eu a sair a correr que nem um louco da escola Preparatória Gonçalves Zarco, embora que a escola ficasse a 2 minutos da minha casa. Tinha uma forte razão para tal: O meu Porto ia jogar uma final. Não sabia qual, mas o que importa é que iamos jogar uma final que era europeia e ainda por cima era a minha primeira final que assistia em directo pela TV.
Cheguei a casa e liguei a minha televisão Salora (com as cores hiper berrantes, o que era moda na altura) e começei a ver o jogo. O meu pai, que era e ainda é Sportinguista, sentou-se ao meu lado tentado me acalmar. Mas com pouco sucesso! O nervoso miudinho apoderou-se do meu espirito! (E que nervoso).
Pouco depois tinha começado o jogo e daí a um tempo vi os alemães a marcarem o primeiro golo. É claro que uma lágrima (de raiva) escorreu cara abaixo mas não queria mostrar a minha parte mais... fraca. E lá continuei a tirar pelo meu Porto, cruzando os dedos a torcer que o FCP ganhasse ou marcasse um golito que empatasse o jogo antes do intervalo. Mas lá veio o intervalo e nada de golos portugueses.
Só sei que minutos depois o nervoso voltou e golos nem vê-los. O meu pai só dizia "Tem calma Chico, eles estão a controlar." E eu lá queria saber se estavam a controlar! Queria era ver o Porto marcar um golo. Depois, houve um cruzamento para a pequena área e Madjer estava lá a dar de calcanhar para o primeiro golo. Parecia que a casa vinha ao chão! Eu berrei, saltei, abraçei os meus pais, sei lá... Estava completamente eufórico! 1-1.
Mas só tinhamos empatado e faltava a outra metade da 2ª parte, quando Madjer encosta à linha para ser assistido: "Anda lá maricas, não aguentas uma m**da d'um jogo" berrava eu para a TV Salora como se ela fosse transmitir a minha raiva ao jogador combalido. Voltava-me a sentar quando este "maricas" recebe a bola na linha lateral, finta o defesa alemão e depois cruza para o Juary marcar o 2º Golo! Bem... nem vos conto. Agarrei-me ao meu pai a berrar, subimos a cadeira a festejar o 2º tento e foi tão contagioso a que até a minha mãe que detestava (e ainda detesta) futebol comemorou o golo connosco. Depois disto só me recordo de rezar para que o jogo acabasse o mais rápido possivel. E parece que as minhas preces foram ouvidas, que daí a nada o jogo tinha chegado ao fim.
Só me lembro de gritar "Porto, Porto, Porto, Porto". Fiquei completamente afónico e pena tenho eu de não me recordar do João Pinto erguer a taça e de não a querer dar a mais ninguém. Sei sim que fui para a cama com o coração aos pulos e completamente eufórico (os festejos foram de pouca duração. É que haviam aulas noutro dia de manhã).
Foi a partir deste dia que decidi que iria ser portista até ao fim. Passados uns anos voltamos a ganhar, agora chamada, Liga dos Campeões, batendo o Mónaco por 3-0. Mas a euforia, a inocência, a TV Salora que havia em 1987 foi substituido por uma TV Phillips, uma alegria a roçar a euforia e por uma meia inocência (terei sempre um bocadito de inocência até morrer!). Isto tudo para vos relembrar que foi em 1987, tinha eu 10 anos de idade e, que no próximo mês de Julho terei 31 anos.
Isto tudo aconteceu há 20 anos.
